sábado, 27 de dezembro de 2008

1.
despede-te tranquilamente,
o coração não vibra
nem recorda,

disso se morre,
de segredos.

2.
é assim o amor, esplendor, risos
em colinas adversas. sob o
destino, seu peso,
dói, afasta.

na margem, sua irmã, esgota as cinzas,
alegra. é assim o amor, apenas
o seu começo, longo caminho.


fjv, "Poemas", FOLHA D´HERA
dá-me, sobre um mapa onde as ihas possam flutuar
e as brancas penínsulas se abandonem às aves,
a incerteza do maior amor ou a tranquila

oscilação dos barcos nas enseadas onde o inverno
pode adormecer, na solidão, na noite, não demores
o tempo entre os anéis, os dedos tocam sempre
esses despojos de antigas navegações.

por isso, nas horas mais tranquilas, entre as falésias
dedico-me a essa ocupação de recolher o que as marés
trazem às praias, como se fosse ao coração.


fjv, "Poemas"
não há enganos entre nós, só as coincidências
explicam os afastamentos que nos unem
ao melhor amigo não conto o que me encanta
e transforma entre nós, que somos tristes e
leves, as longas baías de inverno têm pouco a
dizer. de tudo isso sabemos um pouco,
quase nada, enumeramos razões
e receios, os princípios, nisso esgotamos
a brancura, alguma coisa, algum tempo.

não há enganos. não há nada mais,
o futuro.
dá-me o teu sono sem cansaço nem aromas
a voz que cantando não magoa, leve sopro,
a passagem do tempo, o o que dele restar
como um rio. repete as palavras: uma a

uma, o fruto vai ganhando apetite e vagar,
nenhum sabor é mais maduro que nós
nenhum pássaro.


In "Poemas", Folha D´Hera