esconde a parede branca, a sem mágoa,
o fluir de nomes ao acaso que invadiram
a tua vida e pernoitaram nela como
assaltantes. dá-lhe a recompensa, o vidro
sobre as paisagens que se repetem sem engano.
da distância até às rosas
não colhas nenhuma memória nem nenhum frio.
é assim o tempo: abster-se da sua passagem.
a cerejeira não amadurece nem o tempo
estiola: o que nos enfrenta é demasiado,
em nós se perde, de si se perde.
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
terça-feira, 26 de agosto de 2008
FRANCISCO JOSÉ VIEGAS
Tal como Arlindo Mota e outros poetas, também a poesia de Francisco José Viegas foi editada pelas Publicações FOLHA D'HERA na década de 80. O livro "Poemas" de Francisco José Viegas veio a lume em 1987, com grafismo e desenhos de José Teófilo Duarte: "O milagre dos bons livros, como este bom livro, é o de conquistar amigos invisíveis...Um belo, inusual, estranho e concitante livro" escreve Baptista-Bastos no Diário Popular.
O nosso leito flutua
No marejar dos corpos
aonde a chuva se refaz em rato e mosto
todos os gestos são permitidos
desde que ardam em chama as sentinelas
Flutua porque não é leito
Na dança onde me venço
a água se despe de sombras e medos
para crescerem seixos no porão dos marcos
O nosso leito flutua
É a apoteose da partida
a música sibilina a dar corpo às nossas velas
Flutua porque não é leito
É chão de azeite
In "Mar Arável"
No marejar dos corpos
aonde a chuva se refaz em rato e mosto
todos os gestos são permitidos
desde que ardam em chama as sentinelas
Flutua porque não é leito
Na dança onde me venço
a água se despe de sombras e medos
para crescerem seixos no porão dos marcos
O nosso leito flutua
É a apoteose da partida
a música sibilina a dar corpo às nossas velas
Flutua porque não é leito
É chão de azeite
In "Mar Arável"
A água se organiza aonde
um fio de música lhe morde a voz
A água tem som próprio como a luz dos astros
impregnada de sonhos para nós respirarmos
peregrina e tantas vezes ferida
na folhagem dos corais
é visita assídua de templos e câmpanulas
revigora-se no ar livre
esparge sabores
acordes de alaúde que as manhãs recolhem na pele
(esta é a água incerta que bebemos e desvendamos
o silêncio partilhado que calamos
o amor que nos separa por um seixo)
A água se organiza aonde existem pedras lentas
um fio de música lhe morde a voz
A água tem som próprio como a luz dos astros
impregnada de sonhos para nós respirarmos
peregrina e tantas vezes ferida
na folhagem dos corais
é visita assídua de templos e câmpanulas
revigora-se no ar livre
esparge sabores
acordes de alaúde que as manhãs recolhem na pele
(esta é a água incerta que bebemos e desvendamos
o silêncio partilhado que calamos
o amor que nos separa por um seixo)
A água se organiza aonde existem pedras lentas
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Eterna namorada de metáforas e gaivotas
respiras o hálito morno do moliço
instalas-te nos melhores lábios da manhã
até despertares nas margens e seres gente
(é ainda a inquietude da folhagem
que te transforma em alimento mar arável)
Quando exultas o benefício dos braços
rasgas silêncios por entre silêncios e cantas
constróis murais flutuantes
(os mais simples para as aves)
Tens por hábito adormecer depois do trabalho
à semelhança dos cristais
in MAR ARÁVEL
respiras o hálito morno do moliço
instalas-te nos melhores lábios da manhã
até despertares nas margens e seres gente
(é ainda a inquietude da folhagem
que te transforma em alimento mar arável)
Quando exultas o benefício dos braços
rasgas silêncios por entre silêncios e cantas
constróis murais flutuantes
(os mais simples para as aves)
Tens por hábito adormecer depois do trabalho
à semelhança dos cristais
in MAR ARÁVEL
Na água se guardam os mais perfeitos silêncios
inscrevem rumores
que a luz vai transformando em pão
na água se devoram cardumes por ternura
movem folhas secas como espadas
na água já vi correr a nudez das margens
(foi quando os homens se deixaram
envolver em ciladas para salvar memórias)
na água se colhe a chuva e o deserto
ganha corpo o sonho para intervir na paisagem
na água tudo é humano
até o respirar
inscrevem rumores
que a luz vai transformando em pão
na água se devoram cardumes por ternura
movem folhas secas como espadas
na água já vi correr a nudez das margens
(foi quando os homens se deixaram
envolver em ciladas para salvar memórias)
na água se colhe a chuva e o deserto
ganha corpo o sonho para intervir na paisagem
na água tudo é humano
até o respirar
EUFRÁZIO FILIPE
Eufrázio Filipe Garcês José tem um vasto currículo a nível cívico, designadamente no exercício de cargos no Poder Local. Tem várias obras publicadas, entre as quais um livro de contos A Secular Barca do Zé e um romance A Linguagem dos Espelhos. Mas é enquanto poeta que o autor tem vertebrado a sua obra, tendo colaborado em várias colectâneas de poesia, e publicado várias livros, entre as quais: A Linguagem dos Espelhos (1982); Vagarosos Instantes (1984); Mar Arável (1988); A Inocência dos Murais (2003). É destes últimos livros que seleccionámos alguns poemas.
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