PRESENÇA
Escalámos obscuros portos,
Assinaladas rotas, pesqueiros revisitados
Nas noites de viagens interditas.
No começo foi assim. Com o tempo
Retomamos circunspectos a tonalidade.
O arco-íris - dirás? Ainda não.
Serpenteamos desejos, reconhecemos
amantes
- e tu, em todo o caso, lá estarás -
Por antecipação.
sábado, 31 de março de 2007
ANTOLOGIA BREVE 15
PERCURSO PERCORRIDO
Foram anos de procura,
Sem curso de marinhagem,
Nem leme ou rumo traçado,
Sem a menor equipagem.
Foram destinos aceites,
Sem uma prévia demão,
Horizontes encobertos
Sem perceber a razão
Foram temas de romance,
E heróis mal preparados,
Cavalgadas sem destino,
De antemão fracassadas.
Foram anos de procura,
Sem curso de marinhagem,
Nem leme ou rumo traçado,
Sem a menor equipagem.
Foram destinos aceites,
Sem uma prévia demão,
Horizontes encobertos
Sem perceber a razão
Foram temas de romance,
E heróis mal preparados,
Cavalgadas sem destino,
De antemão fracassadas.
ANTOLOGIA BREVE 14
DESEJO
Apetitoso o fruto que desejo,
Inominado, fresco, sedutor:
Prouvera fosse o tempo das cerejas,
Soubera ser o tempo do calor.
Das giestas não falo, porque sei
O perfume agreste que despertam.
Apetitoso o fruto que desejo,
Inominado, fresco, sedutor:
Prouvera fosse o tempo das cerejas,
Soubera ser o tempo do calor.
Das giestas não falo, porque sei
O perfume agreste que despertam.
quarta-feira, 21 de março de 2007
Antologia Breve 13
CANTO VIAJEIRO V
Por fim, sentei-me num canto
-entre rio e outro rio,
entre mar e outro mar-
cansado de correr tanto,
indeciso no lugar,
aí fiquei até hoje.
Por fim, sentei-me num canto
-entre rio e outro rio,
entre mar e outro mar-
cansado de correr tanto,
indeciso no lugar,
aí fiquei até hoje.
Antologia Breve 12
CANTO VIAJEIRO IV
Dobrei o cabo da esperança,
fundei o meu universo,
temi o vento ea bonança.
Não fui quixote, nem pança,
para tal, faltou-me o jeito.
Dobrei o cabo da esperança,
fundei o meu universo,
temi o vento ea bonança.
Não fui quixote, nem pança,
para tal, faltou-me o jeito.
Antologia Breve 11
CANTO VIAJEIRO III
Percorri, se é tudo
o que posso imaginar,
descobri novas paragens,
por cada nesga do mar,
viajei por latitudes,
ainda por localizar.
Percorri, se é tudo
o que posso imaginar,
descobri novas paragens,
por cada nesga do mar,
viajei por latitudes,
ainda por localizar.
Antologia Breve 10
CANTO VIAJEIRO II
Como um vulgar marinheiro,
inventei-me num porão,
percorrendo o mundo inteiro.
Os portos foram surgindo,
mas nem por isso mais perto
me encontrei do destino,
como se fosse sumindo.
Como um vulgar marinheiro,
inventei-me num porão,
percorrendo o mundo inteiro.
Os portos foram surgindo,
mas nem por isso mais perto
me encontrei do destino,
como se fosse sumindo.
Antologia Breve 9
Canto Viajeiro 1
Foi no tojo das palavras,
no rigor da intenção,
que rebentei as amarras,
penetrando no que são.
Cortei as asas do tempo,
perfumei o meu olhar,
e adormeci ao relento,
sem ter pressa de acordar.
Foi no tojo das palavras,
no rigor da intenção,
que rebentei as amarras,
penetrando no que são.
Cortei as asas do tempo,
perfumei o meu olhar,
e adormeci ao relento,
sem ter pressa de acordar.
Antologia Breve 8
Meditação I (No dia Mundial da Poesia 2007)
Quem controla o desejo, a emoção
ou a ternura?
A paleta, responde o pintor.
A palavra, atalha o poeta.
Juntos, distribuem a luz
que inunda de cor o planeta
Quem controla o desejo, a emoção
ou a ternura?
A paleta, responde o pintor.
A palavra, atalha o poeta.
Juntos, distribuem a luz
que inunda de cor o planeta
quarta-feira, 14 de março de 2007
Antologia Breve 7
ENTRE O VAZIO E A COR
Caminharás entre os astros, deambulando
entre o vazio e a cor, procurando
o fogo nos seixos húmidos do mar.
Meditarás os antigos: a ampulheta
desvenda o tempo, que circunscreve,
secretamente, deixando um rasto de luz fria.
É isto -Cibele - o padoroxo cruel
dos sentimentos: o poder do amor
gerando o seu contrário, e o contrário
imobilizado por pudor.
Caminharás entre os astros, deambulando
entre o vazio e a cor, procurando
o fogo nos seixos húmidos do mar.
Meditarás os antigos: a ampulheta
desvenda o tempo, que circunscreve,
secretamente, deixando um rasto de luz fria.
É isto -Cibele - o padoroxo cruel
dos sentimentos: o poder do amor
gerando o seu contrário, e o contrário
imobilizado por pudor.
Antologia Breve 6
Nesses Lugares Eu Teço
Os sentimentos, Cibele, são paisagens,
húmus, campos de semeadura, se contêm
a natureza honesta do granito.
Nesses lugares eu teço, sem rebuço de
olhares. As mãos ganham, então, um
sentido mágico, entrelaçam-se, procuram
o âmago do tempo nas profundezas
da terra, cruzam-se e descruzam-se
desordenadamente.
Nesses lugares, os olhos apelam
ao sonho, à viagem, à maresia
dos sentidos, assim o luar liberte
o iodo, agreste perfume das marés.
Os sentimentos, Cibele, são paisagens,
húmus, campos de semeadura, se contêm
a natureza honesta do granito.
Nesses lugares eu teço, sem rebuço de
olhares. As mãos ganham, então, um
sentido mágico, entrelaçam-se, procuram
o âmago do tempo nas profundezas
da terra, cruzam-se e descruzam-se
desordenadamente.
Nesses lugares, os olhos apelam
ao sonho, à viagem, à maresia
dos sentidos, assim o luar liberte
o iodo, agreste perfume das marés.
Antologia Breve 5
Cabo da Esperança
Quanto custou dobrar o Cabo,
Assegurar os mantimentos
E o ânimo dos Homens?
País de marinheiros, de aventuras,
Ninguém pergunta quanto custa
Dobrar o cabo da ternura.
Dobrar o Cabo, sem perder a esperança,
E ao sabor do vento navegar,
Indiferente à tempestade ou à bonança,
Ser uma ilha entre o azul e o mar.
Quanto custou dobrar o Cabo,
Assegurar os mantimentos
E o ânimo dos Homens?
País de marinheiros, de aventuras,
Ninguém pergunta quanto custa
Dobrar o cabo da ternura.
Dobrar o Cabo, sem perder a esperança,
E ao sabor do vento navegar,
Indiferente à tempestade ou à bonança,
Ser uma ilha entre o azul e o mar.
domingo, 11 de março de 2007
Antologia Breve 4
ERA UM TEMPO
Onde os búzios que em tudo pareciam
O regresso ao tempo das sereias?
Onde o fogo das mãos que se queimavam
Junto aos corpos que quase enlouqueciam?
Onde o vento cortando inutilmente
As arestas que cedo os revestiam?
Onde a lua rasgada de desejos,
Eclipse de silêncio por momentos?
Era um tempo, alento da manhã,
Em que as árvores cobriam prontamente
Teus seios, vestígios de romã.
Onde os búzios que em tudo pareciam
O regresso ao tempo das sereias?
Onde o fogo das mãos que se queimavam
Junto aos corpos que quase enlouqueciam?
Onde o vento cortando inutilmente
As arestas que cedo os revestiam?
Onde a lua rasgada de desejos,
Eclipse de silêncio por momentos?
Era um tempo, alento da manhã,
Em que as árvores cobriam prontamente
Teus seios, vestígios de romã.
Antologia Breve 3
OS FRUTOS PROMETIDOS
Seguros são os frutos prometidos,
Que colherás de tanto semeares,
Entre as searas abertas pelos dedos,
Que o vento ondulará quando quiseres.
Seguros são os frutos prometidos,
Que colherás de tanto semeares,
Entre as searas abertas pelos dedos,
Que o vento ondulará quando quiseres.
Antologia Breve 2
CABO DA BOA ESPERANÇA
Quantro custou dobrar o Cabo,
Assegurar os mantimentos
E o ânimo dos homens?
País de marinheiros, de aventuras,
Ninguém pergunta quanto custa
Dobrar o cabo da ternura.
Dobrar o Cabo, sem perder a esperança
E ao sabor do vento navegar,
Indiferente à tempestade ou à bonança,
Ser uma ilha entre o azul e o mar.
Quantro custou dobrar o Cabo,
Assegurar os mantimentos
E o ânimo dos homens?
País de marinheiros, de aventuras,
Ninguém pergunta quanto custa
Dobrar o cabo da ternura.
Dobrar o Cabo, sem perder a esperança
E ao sabor do vento navegar,
Indiferente à tempestade ou à bonança,
Ser uma ilha entre o azul e o mar.
Antologia Breve
MITO PRIMORDIAL
Do rosto emergiu uma flor,
A flor desabrochou como queria,
Assim nasceu o Amor,
E dele a Noite e o Dia.
Do rosto emergiu uma flor,
A flor desabrochou como queria,
Assim nasceu o Amor,
E dele a Noite e o Dia.
CITAÇÃO
Do prefácio escrito por José Jorge Letria para o livro "A Seda das Palavras":
"A poesia de Arlindo Mota, com a qual tomei contacto pela primeira vez há vinte anos, é um permanente exercício de contenção e de rigor formal ao qual não são alheios o gosto pelo recurso à metrificação clássica e a liminar recusa do esbanjamento e do ornamento vocabular.
Estamos, pois, perante uma poesia que tenta cumprir-se na essencialidade do que, ficando dito, deixa tudo o mais por pressentir e por intuir. É nesse sentido, uma poesia de maturidade."
"A poesia de Arlindo Mota, com a qual tomei contacto pela primeira vez há vinte anos, é um permanente exercício de contenção e de rigor formal ao qual não são alheios o gosto pelo recurso à metrificação clássica e a liminar recusa do esbanjamento e do ornamento vocabular.
Estamos, pois, perante uma poesia que tenta cumprir-se na essencialidade do que, ficando dito, deixa tudo o mais por pressentir e por intuir. É nesse sentido, uma poesia de maturidade."
sexta-feira, 9 de março de 2007
Arlindo Mota - Poeta
Da sua obra poética destaca-se: "Canto Viageiro" (1981. com design de josé Cerqueira) ; "Incertos Dias" (1986; ilustrações e grafismo de josé Teópfilo Duarte); "Marca D'Água" (1995; concepção gráfica de Edgar Melitão); "A Seda das Palavras" (Capa e design gráfico de Ivone Ralha).
Volúpia de mil desejos,
Perfume de água e sal,
Em ti deposito um beijo
E a luz, que é natural.
arlindo mota
a seda das palavras
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